quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Halo Combat Evolved - Xbox




Isto deve ter acontecido por volta de 2004.

Ainda tinha meu Dreamcast ligado à TV, mas vivia cheio de pó o coitado. Nada de videogame me animava por esta época, pois estava na faculdade e meu dia era bem ocupado entre o trabalho e os estudos. Até aí, sem novidades para a maioria dos jovens de qualquer lugar do mundo. E foi através de um colega no novo trabalho (um concurso no qual eu havia passado naquele ano) que eu conheci o fenômeno cultural chamado Halo. Sim, fenômeno cultural, devido à enorme quantidade de material que derivou daquele jogo de videogame desenvolvido pela Bungie. 

Claro que à época, ninguém pensava a magnitude que a estória do Master Chief iria alcançar, nem se imaginava como sua saga poderia ser perpetuada, a não ser, claro, através de novos jogos da franquia. Algo seguramente previsível. 

Bom, retornando ao colega de trabalho, após as formalidades que traçam o caminho para o entrosamento necessário para se executar minhas funções na nova casa laboral, este cara, Edmilson, um nerd completamente diferente de todos que havia conhecido, começou a me falar de videogames e, mais particularmente, de seu horror pela Nintendo. Pronto! O santo videogamístico casou na hora.

Conversa vai, conversa vem, “Sonic é melhor que Mario”, “Dreamcast é o melhor console da geração passada”, até que ele fala de um negócio chamado Xbox, produzido pela Microsoft e sobre o qual eu nunca tinha ouvido falar. Sim. Este era o grau de alienação em termos de videogame que eu havia alcançado naquela época. Eram tempos conturbados para mim, que sempre joguei e sempre tive o videogame como meu principal passatempo. 

Bom, o tempo passou e o Edmilson fez o convite para conhecer o Xbox e o jogo Halo, o qual ele chamava “Ralo” e sobre o qual ele falava e me mostrava fotos na internet. Depois eu saberia que sua empolgação não era em vão. Fui até a casa dele após o expediente numa tarde (trabalhávamos em regime de 6 horas) e já na tela inicial do jogo, quando escutei as vozes que entoam aquele cântico meio gregoriano que caracteriza até hoje a franquia, minha mente explodiu! 

Eu já sabia que aquilo seria épico e espetacular, pois só a música já fazia este trabalho tão fundamental nos jogos modernos, o trabalho de imersão. O canto conseguia me transportar para aquele universo sagrado, com seus inúmeros e estranhos significados, cheio de mitologia e ficção científica, cheio de ação e lindos cenários.

Quando o Edmilson começou a jogar, começou a me apontar as diferenças técnicas fundamentais que faziam daquela geração e daquele console, os mais espetaculares já criados, e daquele jogo, a maior revolução em termos de FPS já feita. Mais tarde, saberíamos que seria um divisor de águas, principalmente no que diz respeito a FPS nos consoles e à jogatina multiplayer. Na primeira fase, nada realmente impressionante, pois ainda estávamos enclausurados dentro da nave Pillar of Autumn. 

Mas aí aterrisamos no Halo. E aí minha mente explodiu novamente. O Edmilson me mostrou lentamente aquela área do cenário onde cai a nave de fuga na qual o Master Chief foge da Pillar of Autumn. Fomos até a borda do penhasco onde ele me mostrava a curva ascendente do Halo, aquele mar lá embaixo refletindo o sol, as cores, a fluidez e a amplitude daquilo tudo. Cada árvore, cada inimigo, as naves, os veículos, a água, as luzes, tudo, absolutamente tudo era absurdamente novo para mim. Aquele turbilhão de informações funcionou como um gatilho que voltou a colocar em movimento o projétil da minha paixão por videogames e foi através daquele jogo que eu redescobri o prazer de jogar.

Não demorou muito e comprei meu próprio Xbox e a partir dali esta loucura não parou mais. Graças ao meu amigo Edmilson, eu voltei a ser um gamer. 

Obrigado, amigo!

 -x- 

Meu camarada Edmilson morreu em 2013, vítima de um câncer no cérebro, após lutar por cerca de dois anos. Pouco antes de partir, ele comprou Halo 4. A franquia era a sua grande paixão, a qual compartilhou comigo até o final. 

Já afastado do trabalho por conta da doença, um dia ele foi até o nosso escritório nos fazer uma visita e trouxe consigo o Halo 4 que recém havia comprado. Emprestou-me, pois ele dizia que não tinha mais condições de jogar pelas mãos que tremiam muito e pela baixa capacidade de concentração causada pelos remédios da quimioterapia.

Ele faleceu em julho. Tinha a minha idade.

Só depois disso eu decidi fechar Halo 4, em sua homenagem.


Edmilson e eu, no Dia do Trabalhador de 2009.