Não jogo bola. Não sei jogar bola
e, sim, por isso eu era goleiro na escola.
Eu era relegado a esta posição
pela minha evidente e assumida falta de habilidade com a redonda e por eu ser
gordo. É...a vida na época em que bullying não era algo repreendido na
sociedade não era fácil. Mas eu sobrevivi...e continuo gordo.
Desde os tempos de Atari eu jogo
futebol no videogame, mas convenhamos que o Atari não era um primor em jogos de
esporte, a não ser no “Tennis”, este sim, uma joia rara.
Aí fui para os 8 bits e me
diverti imensamente com o “Goal” da Jaleco. Este game era bom mesmo! Só tinha
seleções nacionais, o único formato de jogo possível era Copa do Mundo e
ninguém reclamava disso. Muitas partidas desse clássico foram jogadas em meu
console Hi-Top Game, um dos muitos Nintendo 8 bits genéricos do mercado
nacional à época, junto com meu primo Fabricio.
Quando a era 16 bits começou, as
possibilidades da nova geração eram muito maiores graficamente e é claro que os
jogos de futebol foram devidamente bem explorados pelas desenvolvedoras de
games da época. Vários títulos foram lançados, cada um explorando um tipo de
visão de jogo, modos de controle e jogabilidade. Todas concorrendo entre si
para achar o Santo Graal do futebol virtual, a forma perfeita (ou a mais perto
disso possível) de simular uma partida de futebol.
Tecmo World Cup 92 (como assim?),
Super Futebol, World Cup Italia 90, International Super Star Soccer, Fifa
Soccer e muitos outros. Não faltava opção de game de futebol na era 16 bits.
Cada game tentava melhorar um aspecto do jogo ou opções de melhorias nos
jogadores e personalização de times.
No Neo-Geo CD joguei o clássico
dos árcades Super Sidekicks 2. Este foi o primeiro jogo de futebol que joguei
que poderia ser localizado em espanhol e não dá para esquecer algumas
expressões como “tiro de puerta” e o grito empolgado de “Goooooolllll” tão
natural a nós latinos.
Pulando uma boa parte da história
dos videogames e chegando ao domínio da Sony com seu Playstation, eis que descobrem
o primeiro Santo Graal do futebol virtual.
A japonesa Konami lança o Winning
Eleven e milhões de jogadores no mundo todo finalmente conseguem sentir-se como
jogadores de futebol de verdade. Gráficos e sons inimagináveis até então,
física aplicada no jogo e jogabilidade muito próxima da perfeição. Sim, Winning
Eleven mudou o paradigma dos jogos de futebol em videogames.
Mas a minha história só tem
início uma geração de consoles depois com o mais novo ator do embate pelo
coração (e pelo bolso) dos gamers de todo o mundo: o Xbox.
A Konami, que até então só
lançava seus jogos para o Playstation lança para o Xbox, da Microsoft, o
incrível Pro Evolution Soccer 5. E quando eu joguei este jogo pela primeira vez
não preciso dizer o que aconteceu, mas eu digo mesmo assim: aquilo explodiu a
minha mente!
Na época eu era da turma do Jack
Sparrow, sabe. Comprei uma versão piratinha, para o meu console que tinha um
chip só pra rodar esses discos “genéricos”. Fazer o quê? Mas hoje já me
endireitei. Só compro jogos originais há uns 8 anos.
Mas nesta de jogos piratinhas,
encontrei um que já tinha os times brasileiros e sul-americanos no lugar das
equipes europeias. Era um dos muitos “mods” criados por programadores fãs do
jogo e que queriam fazer uma graninha fácil.
Bom, o jogo fluía como nenhum
outro antes dele, tinha controles absurdamente precisos, gráficos excelentes
para sua época, jogadores reais e era possível fazer todo o tipo de firula
futebolística imaginável na intenção de humilhar o adversário. Simplesmente um primor!
Assim que descobri o modo Master
League eu viciei instantaneamente. Era tudo o que eu queria! Fazer um time de
futebol do comecinho mesmo, desde o uniforme até o banco de reservas , treinar,
jogar e até escolher um estádio para jogar como mandante. “ESCATABUUMMMMM”!!!
Além destas características,
tinha também evolução de jogadores, comprar e vender atletas nas janelas de
negociação, jogar mais de um campeonato na temporada, lidar com as lesões dos
comandados e, obviamente, jogar e jogar até fazer calos nos dedos. Ainda tenho
meus calinhos do Pro Evolution até hoje e me são muito úteis!
Mas meus melhores momentos com
essa maravilha foram em jogos com meus camaradas boleiros virtuais.
Jogando em lugares impróprios (e
por enquanto fica por isso), ficávamos madrugadas inteiras em pelejas pelo
domínio do campo de jogo. O vício foi levado às últimas consequências ao
colocar em risco o próprio ganha-pão! Um absurdo! Mas um absurdo espetacular,
perfeito, empolgante e desafiador.
Partida após partida, jogada após
jogada, berrávamos contidamente (isso é possível) naquela enorme sala com
metade das luzes apagadas. Alguns tinham coisas a fazer e as faziam na maior
velocidade que podiam para poder terminar a tempo de jogar algumas partidas.
Companheiros de outras salas que trabalhavam nestes horários alternativos
vinham até a minha, abrindo metade da porta e perguntando com o rosto iluminado
pela excitação da contraversão, “E aí, trouxe?” E eu respondia devolvendo a
mesma expressão, “Claro, depois chega aí, seu pato!” Que demais! Que época!
Cada jogo era uma batalha travada
com paixão e com orgulho. Muitos placares apertados, muitas goleadas, muitos
lances inesquecíveis e outros para tirar sarro para sempre. Murros na mesa,
socos na parede, berros (às vezes altos demais) e risadas, muitas risadas.
É uma outra sensação jogar com
pessoas ao seu lado...
Tínhamos nosso times favoritos,
nosso campos favoritos, nosso ranking particular, nossos esquemas táticos específicos
e assim foi por um bom tempo.
Mas uma hora eu deixei de levar o
pesado Xbox, controles e jogos na mochila e simplesmente acabou. Bola pra
frente.
No próximo post, um clássico
entre os clássicos, um jogo que redefiniu o sidescrolling e colocou pimenta na
disputa Sega X Nintendo: Sonic.